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TORCEDOR FANÁTICO

  • Foto do escritor: Luiz Carlos
    Luiz Carlos
  • 19 de set. de 2014
  • 5 min de leitura

Todos contra um

Por Alexandre de Toledo Piza em 19/09/14

Alexandre Piza, autor da coluna Torcedor Fanático, questiona critério de julgamento do WCT em Trestles e analisa a participação dos brasileiros na etapa.

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Para o colunista, Gabriel Medina carrega a história de um passado promissor, um presente de superação e uma esperança de um futuro melhor para o surf brasileiro. Foto: © ASP / Kirstin

Vim dirigindo para o trabalho hoje, pensando no que escrever sobre o evento de Trestles. Tupac no alto falante, lembro das fantásticas ondas de Jonh John, do risinho irônico de Slater quando Medina perdeu para Ace Buchan, da merecida vitória de Jordy, que correu por fora, mas foi altamente regular. Porém, o que mais me marcou foi aquele aéreo monstruoso de backside executado por Filipe Toledo na bateria do segundo round contra Adam Meling. Vi todo o campeonato e me pergunto: como aquela onda não é um 10 unânime? O aéreo em si, a onda da série e a segunda pancada de backside, como não compor uma nota perfeita? Aí, em baterias seguintes, milagrosamente o conceito de julgamento vai mudando. Ora ondas menores com manobras mais expressivas valiam mais, ora ondas da série com três manobras valiam mais. E a alternância ia se ajustando de acordo com esse ou aquele surfista que competia em determinada bateria. Não gosto de ficar falando muito nessa história de complô, mas talvez um lado pessimista e aquele sentimento de sempre-oprimidos-pelos-primeiro-mundistas-que-comandam-o-surf me faça gerar teorias de que a ASP cada vez mais se torna uma grande empresa e que precisa deixar o esporte mais emocionante, o circuito mais competitivo, as transmissões mais interativas, com mais replays, mais qualidade de imagem em slow motion, mais breaks comerciais e mais dólares entrando na conta da entidade. E já que o julgamento no surf é reconhecidamente tão “subjetivo”, por que não deixar, então, dentro do “possível”, o circuito mais emocionante? Não precisamos ir muito longe para lembrar de casos grotescos, como a vitória de Julian Wilson contra Gabriel Medina em Portugal. Só que nessa fase parece que ainda não haviam descoberto essa “técnica” de ajustar as notas às condições do mar ou dos surfistas em questão, em determinada bateria. Agora que estão fazendo dessa forma, está mais “light”, não está escancarado, e muitos vão dizer que é piração da minha cabeça. Enfim, que seja. Bom, vamos lá: Medina em quinto, Slater em terceiro. Um menino de 20 anos, um tiozão de 42. Um fenômeno, um mito. Um país de tradição no surf, um país buscando seu primeiro título mundial. Quem vai levar? Slater está certo em dizer que Medina carrega nas costas o peso de uma nação. Nunca o surf esteve tão em evidência na mídia aberta. Meus amigos que nem pisam na areia me perguntam “e esse tal de Medina, hein?”. É #vaimedina pra todo canto e isso também só me reforça que se não formos os melhores, nada adianta. A lei da selva é assim, não tem espaço para segundos colocados, e a nossa memória não coroa medalhas de prata. Fomos durante muito tempo “promessas”, fizemos frente aos gringos com lampejos de genialidade, quando o surf ainda era só um estilo de vida e as competições grandes encontros de nações e panelinhas em geral, época de Pepê Lopes, Ricardo Bocão, Roberto Valério e alguns outros. Na sequência, fomos os reis das triagens nas épocas iniciais de Teco e Fabinho, mas nos eventos principais acabávamos caindo cedo. E olha que as vitórias nas triagens eram exaltadas como triunfos épicos naquela época de ouro das revistas e do programa Realce. Só que na real não tínhamos muito a dimensão de que uma triagem era praticamente nada. Hoje, quando escutamos falar em triagem, exceto as de Pipe e Teahupoo, é tipo um “eventinho chulé”. Quem diria! Daí veio a época em que o caldo começou a engrossar mais: Victor Ribas, Peterson Rosa, Guilherme Herdy, Renan Rocha, Paulo Moura, Neco Padaratz, Christiano Spirro, Armando Daltro, Pedro Henrique e alguns outros juntaram-se a Teco e Fabinho, e cada vez mais a gringalhada começou a arregalar os olhos: “Opa, calma lá, de sparrings os caras estão começando a formar um bloco de fazer frente”. E foi aí que, na base da marretada, tijolinho por tijolinho, a coisa foi se solidificando. Definitivamente não estávamos mais ali para contemplar, estávamos para espancar os lips e trucidar os adversários. Acredito que, tirando algumas exceções, o deslumbre e o excesso de noitadas não deixaram que muitos fossem mais longe. Ainda éramos um pelotão do intermediário para trás, porém sólidos e incomodando bastante. No meio desse caminho, muitas marcas pararam de patrocinar os circuitos locais e nacionais, hoje os filmes de surf - que antigamente custavam relativamente caro - são baixados de graça na web, muitas marcas que tinham equipes enormes de competidores hoje em dia não têm mais nenhum! Fora que os circuitos locais, estaduais e nacionais estão enfraquecidos ou praticamente inexistem. No meio desse caminho surgiu essa geração com Mineiro, Medina, Pupo, Alejo, Jadson e companhia, patrocinados pelas multinacionais que revolucionaram os meios de comunicação digitais e continuam a dominar o bloco fechado das grandes marcas de surfwear. Esses atletas são tão fora de série que conseguiram, no meio dessa crise toda, com muita ajuda da família no início, segurar na corda e ser puxados para o barco do Tour dos sonhos. Só que, na hora em que um deles cai para fora do barco, caso não caiam nas graças de algum canal de TV por assinatura, ou mesmo de alguma marca que tenha interesse em um freesurf de ponta, esses caras estão “condenados” a viver de nada. Não há um circuito com premiação digna aqui no Brasil e viajar pra fora sem patrocínio é muito mais caro e complicado do que se imagina. Portando, senhor Kelly Slater, o Gabriel Medina não carrega somente o peso de uma nação de torcedores fanáticos, ele carrega toda uma história de um passado promissor, um presente de superação e uma esperança de um futuro melhor para o surf brasileiro. Medina, Mineiro, Pupo e Jadson mandaram muito bem nesse evento. Pena Jadson ser tão inconstante e ir de gênio a opaco de uma bateria para outra. Pupo a mesma coisa: ora um backside mortal, ora uma displicência funeral. Mineiro nessa constância ótima, mas normalmente acaba superado por surfistas melhores do que ele. Fez médias altíssimas e apresentações impecáveis. Se não tivesse pegado John Jonh pela frente, teria ido mais um degrau. Medina errou na estratégia contra Adrian Buchan. Foi naquelas de pegar as intermediárias, apostando no air show, enquanto Adrian dava sapatadas de backside nas da série. Tudo bem, não funcionou, mas o quinto lugar entra bem no somatório e a diferença faltando três etapas ainda é substancial. Só não pode dar mole, já que atrás dele no ranking têm 15 títulos mundiais, um atrás do outro: 11 de Kelly, 3 de Mick e um de Joel, loucos por um tropeço do garoto de Maresias. É provável que não será moleza, mas, como depende apenas de si mesmo, Medina já está com um dedinho encostado na taça. #vaimedina


 
 
 

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